quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Era uma vez Joana


Joana estava na flor da idade e tinha lábios pelos quais tantos tinham passado a suspirar. Seus olhos possuíam uma vivacidade que facilmente entregavam sua sagacidade. O calor de seu corpo emanava discretamente, mas mãos alheias ardiam por um reles toque, sem que sua ingenuidade permitisse saber.

Era bela, porém não segura. Apesar de vez ou outra impetulante, defendendo seus ideais com afinco admirável em possíveis discussões, além de transmitir ares de consciência de sua formosura, em seu íntimo, nutria cada vez mais um sentimento de inferioridade, de alguém cujos olhos nunca viriam a ser fitados com ternura, pois nada de interessante haveria de encontrar-se lá.

Cada anoitecer em que se achava sozinha só tornava-se mais uma confirmação de que estava fadada a permanecer nesse estado. Perdida em seus pensamentos delusionais, empreendia seu tempo a devanear em meio a seus livros de romances fictícios, que pareciam deveras mais interessantes e reais do que sua vida poderia vir a ser algum dia.

Joana havia perdido a fé e o senso de realidade, que todos devem ter, por causa de alguns dias mais nublados. Mais cedo ou mais tarde, o bem calharia à sua porta, porque é assim que tem de ser. Joana esquecera-se de que a arte imita a vida; os finais felizes existem. Dias melhores estão sempre por vir.

Joana era ela, Joana era eu, Joana eras tu. Oh, infelizes tempestades em que nos encontramos, as quais fazem-nos perder as esperanças.

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