quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Era uma vez Joana


Joana estava na flor da idade e tinha lábios pelos quais tantos tinham passado a suspirar. Seus olhos possuíam uma vivacidade que facilmente entregavam sua sagacidade. O calor de seu corpo emanava discretamente, mas mãos alheias ardiam por um reles toque, sem que sua ingenuidade permitisse saber.

Era bela, porém não segura. Apesar de vez ou outra impetulante, defendendo seus ideais com afinco admirável em possíveis discussões, além de transmitir ares de consciência de sua formosura, em seu íntimo, nutria cada vez mais um sentimento de inferioridade, de alguém cujos olhos nunca viriam a ser fitados com ternura, pois nada de interessante haveria de encontrar-se lá.

Cada anoitecer em que se achava sozinha só tornava-se mais uma confirmação de que estava fadada a permanecer nesse estado. Perdida em seus pensamentos delusionais, empreendia seu tempo a devanear em meio a seus livros de romances fictícios, que pareciam deveras mais interessantes e reais do que sua vida poderia vir a ser algum dia.

Joana havia perdido a fé e o senso de realidade, que todos devem ter, por causa de alguns dias mais nublados. Mais cedo ou mais tarde, o bem calharia à sua porta, porque é assim que tem de ser. Joana esquecera-se de que a arte imita a vida; os finais felizes existem. Dias melhores estão sempre por vir.

Joana era ela, Joana era eu, Joana eras tu. Oh, infelizes tempestades em que nos encontramos, as quais fazem-nos perder as esperanças.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Desajustada com o mundo


O vento batendo no rosto, o sol irradiando beleza no céu azul... Tudo para constratar com o cabelo que não se ajeita, as roupas folgadas que parecem apertadas quando você está se sentindo tão acima do peso, e os olhos ardendo febrilmente.
E como Murphy sustenta uma infalível teoria, bem nesse dia que era melhor não ter levantado (especialmente quando suas olheiras profundas estão destacadas ao extremo, em meio ao seu cansaço), aparece aquele cara que você está profundamente apaixonada...

(Sério, quais são as chances? Por que ele não me foi aparecer naquele dia que eu estava linda de morrer? Oh céus...)

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Interiormente

Este sentimento de incomplitude
Que contraria a minha razão:
É como estar beirando um açude
E vir a perecer de sequidão,
É estar em profunda solitude
Permeando uma vasta multidão,
Algo que um reles poetizar
Não passa de um novo enganar.

Se cambiasse teria virtude,
Mas encarcera alma e coração;
Até tentei expurgá-la como pude
Mas a esta ânsia não dou vazão.
E como brilho de vil amplitude,
Ressemblo iludida luz em vão:
Tais versos soarão sem o cantar
Pois não se faz a voz alta ecoar.