quinta-feira, 24 de julho de 2008

O que Milena disse


― Eu estou amando ― ela disse para si mesma abruptamente, voltando a seus sentidos.

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Milena era uma garota típica de 17 anos, com sua família feita por parentes um tanto quanto doidos e com amigas que só falavam de garotos. Cabelos castanhos que combinavam com seus olhos, estatura mediana e umas gorduras que a incomodavam. Uma garota mediana, exceto por uma coisa: ela nunca tinha amado.

Obviamente que amava seus pais, seus amigos e seu cachorro de estimação, mas a questão é que nunca havia se apaixonado de verdade. Não é como se nunca tivesse saído com garotos ou até mesmo namorado; já tinha passado um bocado de dias segurando mãos alheis. O problema era que não tardava muito a buscar um novo par de mãos.

Mas aquela terça-feira amena era um marco. A rotina era quebrada. Encarava sua xícara de leite intocada enquanto divagava lembrando-se das vezes em que fingira beijar aqueles lábios que almejava e então sentia falta daquela voz grave tão única dele. Imaginava como seria segurar aquelas mãos para sempre e poder se perder naqueles olhos azuis.

― Eu estou amando ― ela disse para si mesma abruptamente, voltando a seus sentidos.

A rotina da indiferença era quebrada. Ela, pela primeira vez, realmente estava amando um garoto, o único garoto para ela, a seu ver. Ela mesma mal podia crer em como ele a tinha salvado de seu próprio ceticismo. E ela seria, enfim, uma garota normal.

Seria, então, não fosse um detalhe. Era como se ela estivesse fadada a se destacar da maioria. Porque era uma minúcia que mudava tudo, tornava a história tão mais inacreditável quanto mais incomum. Milena estava amando alguém que só vira através de uma tela e ouvira através de auto-falantes.

domingo, 13 de julho de 2008

Educação sexual


Sexo. Só o fato de falar essa palavra pode ser um tabu em si. Mas por quê?!

É algo natural que todos fazem mais cedo ou mais tarde, independente de haver acesso a camisinhas ou não. Ou seja, nossas escolas têm, sim, que disponibilizar preservativos, mas não só isso como deve haver também um diálogo, instruções para que quando chege a hora, realmente não haja um risco de DSTs ou uma gravidez indesejada.

Cada um tem a sua hora. O conhecimento e os meios para o sexo seguro não mudam isso. Máquinas de camisinha não vão interferir nessa decisão pessoal - elas só vão garantir que essa decisão não vire o pior pesadelo do jovem.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Limite


Eu comecei a beber quando tinha 13 anos e, desde então, sempre fui conhecida como aquela garota que está sempre com um copo, uma taça ou uma lata de alguma bebida na mão. Já passei por vexames, falei coisas que me arrependi de ter dito depois e já não lembrei o que aconteceu na noite anterior. O álcool já era parte de mim.

Mas a situação saiu dos eixos - dez da manhã parecia tarde para abrir uma garrafa. A rotina era sempre a mesma, também - começaca com um gole e terminava no banheiro ou praticamente desmaiada em qualquer canto. E no único dia em que nada disso poderia acontecer, eu não consegui evitar o contato do copo com os meus lábios e cheguei ao ponto de literalmente nem saber o meu nome.

Era sério; até eu já começava a perceber o meu problema. E tudo ia para outro nível se levado em consideração o histórico de alcoolismo na família. Minha mãe estava determinada a me mandar para uma clínica de reabilitação, mas ela cedeu depois de eu implorar para que não fosse, prometendo não beber mais.

Não vou dizer que nunca mais tomei uma gota sequer, isso seria mentira, mas posso afirmar que nunca mais cheguei àquele estado. E não é por isso que nunca mais me diverti. Tenho experiência suficiente para dizer que o problema não está na bebida, mas em como se bebe. Não digo que não se deve beber, só deve haver uma certa moderação, como tudo na vida. Porque, de verdade, aquela linha tênue, uma vez cruzada, da maior diversão que você tem, pode virar seu pior problema.

domingo, 6 de julho de 2008

"Love is watching someone die"


I'll always remember today as the day when my grandfather died.
It must have been about 3am when the phone rang with the news. It was before 6am when my father left for his funeral, 600km away, leaving wife and daughters behind. There was no need for everyone to go. And the only reason he went through all that trouble was because it was what you could call an obligation.

The saddest thing about this event was not death itself, but how he was not mourned. Not by his grandchildren, not by his son. When he needed them, there was no one around because that's what he brought upon himself.

Everybody dies. What can actually be different is if you are going to have someone by your side just before you do, someone who hopes you make it, someone who holds your hand. The meaning of life is not life itself, but it's something we find in death.