quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Bar - Parte II


Não, não era. E outra vez o que chamava de visão ocorreu-lhe mais como algo traiçoeiro do que ferramenta útil. Lentamente retomou seus sentidos e mais que depressa ordenou que lhe servissem outra bebida. A noite seria longa demais e outro episódio curto de sua batalha de querer e precisar.

Grãos de areia unidos por um calor intenso refletiam com meia alma o que ela sabia que passava despercebido aos que lhe rodeavam. A sua fidelidade novamente era algo desleal consigo mesma. Atestar derrota era uma vitória em si, àquele ponto. Mas uma continuidade de diálogos era o que lhe restava.

O espelho, a preocupação, tudo era em vão. Esforço claramente desnecessário para um borrão. Levantou-se e dirigiu-se à porta. Era incrível como aquela saída era tudo menos um escapismo que ela tanto desejava. E, certa de inconvicções, apertou o passo, mais frouxo do que aquilo que batia dentro dela.

Com um cumprimento inesperado de outrem cuja voz ressoava como canção de longa data, exaltou-se por uma dúzia de segundos até que vislumbrou o que se passava: era ele. Ele e seus abraços, além dos mil encantos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Bar - Parte I


Ela olhou-se mais uma vez naquele espelho retangular sob a luz forte que incidia a fim de melhorar a visualização. Mal podia conter aquele riso que automaticamente surgia na esquina de seus lábios. O cabelo estava longe do que gostaria que estivesse e a sombra poderia estar melhor, mas tudo bem. O sorriso tornava a aparecer. Não havia mais tempo, era hora de ir. Ah, frio na barriga! Só checou uma última vez seu semblante. Ela sabia que estava bonita, mas a vida é cheia de surpresas. Ela queria certezas.

Mais tarde, banquetas e mesas sob meia-luz. Era a penumbra de amantes. Agora ela esperava e, mais ainda, desejava tornar-se a metade permanente daquele coração. Todos os sinais eram positivos, mas, depois de três anos passando por essa agonia, era uma ansiedade negativa que tomava-lhe corpo e alma.

Olhou ao redor. Seus amigos estavam todos lá e ela só queria a presença de quem não via. O líquido amarelo percorria sua garganta como um rio corre tranqüilo pelo seu leito. A bebida caía-lhe bem em meio a essas agitações internas que, vez ou outra, tornavam a manifestar-se por fora com seus tremores e tonturas que só os tragos a seguir fariam-na melhor.

No seu murmúrio, uma velha melodia. À frente, cabelos negros e aquele semblante que sabia de cor. Encarou melhor. O coração acelerou mais que nunca.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobre o mal


Somos acostumados, sim, com o mal, mas não por haver pessoas que cometem atrocidades como causar a morte de uma menina de cinco anos, prisão de adolescentes em carceragens impróprias, mas porque, acima de tudo, há muitas vidas em situações ainda piores e não fazemos nada.

Mesmo depois de 120 anos de abolição da escravidão, ainda encontramos pessoas submetidas a isso. Temos os bóias-frias, por exemplo, que são claramente trabalhadores em condições desumanas e explorados.

Além disso, vemos a corrupção, os roubos que nossos governantes realizam, mas ainda assim não há alguma agitação para que se exija algo melhor que "ele rouba, mas pelo menos faz".

O que nos caracteriza como coniventes em relação ao mal é essa apatia. Selecionamos alguns casos isolados e, só porque nos importamos com esse, é como se nossa alma fosse lavada. Não é. O mal continua reinando arbitrariamente.

sábado, 5 de abril de 2008

Entre roupas


Ser chique e andar na moda são duas coisas distintas, podendo até ser antagônicas. Não é porque a pessoa está totalmente na moda que ela não pode vir a ser cafona e não é porque a pessoa não segue as últimas tendências que ela é brega.

O melhor é se vestir do jeito que quiser e se sentir bem. Existe um parâmetro, existe um conceito, mas seguir isso é escolha de cada um. Mesmo porque a roupa que usamos é uma das formas mais sinceras de nos expressar ao mundo.

Não adianta nada ser hype e não se sentir bem com isso. Usar um vestido lindo Dolce&Gabbana e existir um incômodo. O brilho é esmorecido e a moda deveria fazer justamente o contrário.
Chique é vestir uma camiseta e uma calça e não se importar com o resto do mundo.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O passado é o futuro com as luzes acesas


Enquanto eu voltava para casa hoje, o céu estava num preto alaranjado por causa das luzes. A janela tinha sua visibilidade limitada pela água que não paravam de cair, formando filetes de gotas. As árvores balançando com o vento. E aquilo tudo refletia, talvez, o que eu escondo dentro de 1m61cm.
Era o meu arredor refletindo o que eu sentia e vice-versa.
Eu sou romântica. E no sentido mais byroniano possível.

Porque o que me cincundava antes não era nem um pouco mais claro. Porque aquela chuva fraca bem que demonstra o que eu tento não ver em mim.

Eu vivo um Transatlanticismo enquanto eu queria alguém no banco do passageiro.
E eu posso ser bela, mas eu não significo nada.